terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
PROMETEU, TEM DE CUMPRIR

A promessa impensada de Pedro foi cumprida em Goioerê

27/07/2021
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                        Campo Mourão, 1976. Representando Goioerê nos Jogos Abertos, Pedro disputou a modalidade de salto em altura. Confiante, disse antes da prova a alguns amigos que, se ganhasse, voltaria a pé até sua cidade. Pronto, ele venceu. Mas, ao embarcar no ônibus da delegação, para retornar os 70 quilômetros, a turma cobrou a promessa. Então, calmamente, desceu do coletivo e se pôs a caminhar o trecho. Entre andar e correr, chegou apenas no outro dia. Lá, foi apanhado por uma comitiva. E comemorou a vitória numa carreata.

A história de Pedro Thomaz Rodrigues, 68, ainda é pouco conhecida na cidade. No entanto, ele a conta com prazer, como se fosse ontem. Mesmo já um senhor, tem olhar de menino. E isso também se vê na prosa descontraída. Sempre sorrindo, é um eterno brincalhão. Muito possivelmente, a fórmula para conquistar tantas medalhas na juventude.
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PROMESSA
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Naquele ano, o ônibus de Goioerê deixou Campo Mourão às 10 da noite. Mas promessa é promessa. Mesmo no escuro, a cumpriu. A estrada ainda era de terra. Ao lado, apenas mato. Sozinho iniciou a jornada. No entanto, 20 quilômetros depois, ouviu rugidos. “Certeza que era onça. Entrei em Farol e esperei um pouco. Depois segui”, disse.

À frente, com fome, parou na única venda à beira da rodovia. Comeu pão com ovo e mandou ver uma Caracu. Bastou se alimentar, para retomar o trecho. “Ei ficava com medo de atravessar as pontes. Eram todas velhas e de madeira”, contou. Mesmo assim, não havia mais o que fazer. Já estava no meio da empreitada. Ou seguia, ou a onça pegava.

“Ás vezes eu dava uma boa corrida. Mas na maior parte do trajeto, apenas caminhei”, lembrou. E foi assim, que chegou à entrada da cidade somente no outro dia, por volta das 13 horas. Lá, uma comitiva o aguardava para comemorar. Não a promessa. Mas a conquista da medalha de ouro no salto. Naquele ano, Pedro pulou 1,86 metro de altura. Um ano depois, em Arapongas, foi bicampeão, pulando 1,89. “Aprendi a lição e, desta vez, não prometi nada”, disse ele, rindo.
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VIDA DEDICADA AO ESPORTE
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Pedro nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo, em São Paulo. Filho de comerciantes, teve outras quatro irmãs. Ainda criança, os pais mudaram para Assis. E foi ali, onde iniciou os primeiros passos rumo aos esportes. Primeiro teve aptidão ao basquete. Depois, ao atletismo. Em 1973, no Rio de Janeiro, conquistou o terceiro lugar no salto em altura, no Troféu Brasil.

Dois anos depois, já em 75, uma prima o convidou para participar de jogos regionais em Goioerê. Ele foi. Gostou tanto da cidade que, já em 76, mudou de vez com a esposa, Eliana. A partir dali, começou a representar a cidade em modalidades de basquete e atletismo. Ao mesmo tempo, conseguiu vaga no departamento de esportes da prefeitura. Onde continua até hoje.

Jogando basquete, ainda se recorda de uma partida contra a equipe de Maringá, em 1988. Lá, o tempo fechou em quadra. Nervosos, o pau quebrou entre os atletas. “Naquele dia eu quase morri. Um grandalhão do Maringá me abraçou por trás. Ele pesava uns 120 quilos. E não me largava. Estava quase sem respirar. Outros colegas tiveram que intervir, senão tinha ido”, lembrou. Segundo contou, a quizumba não partiu dele.

A vida esportiva marcou e serviu de exemplo aos dois filhos. Ana Paula, também jogou basquete. Hoje, atua junto ao município, como professora das quatro linhas. O filho, Pedro, mora em Santa Catarina, onde dá aulas de artes marciais. Pedro, o pai, já tem quatro netos.

“Sempre fui torcedor do Santos. Sou viúvo do Pelé”, garante. Pedro jogou basquete até os 44. Mas foi no futebol onde lesionou o joelho. Ligamentos e menisco já eram. Por causa das lesões, ele caminha com certa dificuldade. Mas nada que tire o sorriso, muito menos o sono. Além da filha, duas das quatro irmãs de Pedro, também foram jogadoras de basquete. Uma delas, inclusive, jogou com “Magic Paula”, em Assis.

Pedro teve o pai, Pedro, e o filho, Pedro. Assim sendo, também é devoto de São Pedro. Não podia ser diferente. Na sua vida, concluiu o segundo grau. Mas ao invés de uma profissão burocrática, ou não, preferiu deixar o destino o levar ao esporte. Atualmente, já está aposentado. Bebe a sua cervejinha e mantém o sorriso diante dos problemas do dia a dia. Um passo de cada vez. E o sorriso, sempre. (Dilmércio Daleffe – Nós Humanos).