segunda-feira, 5 de maio de 2025
ENTENDA O CASO

Padre diz que menina de 10 anos 'compactuou com o estupro' e depois pede desculpas

21/08/2020
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                                 O padre Ramiro, de Carlinda, a 774 km de Cuiabá, comentou numa rede social que a menina de 10 anos que ficou grávida após ser estuprada pelo tio, no Espírito Santo, teria "compatuado com o estupro". Ela teve a gravidez interrompida, na segunda-feira (17), após autorização judicial.
                                 Depois da repercussão, ele excluiu a conta dele no Facebook e divulgou nesta quinta-feira (20) uma nota pedindo desculpas
                                 O padre havia compartilhado uma mensagem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) sobre o aborto da menina e várias pessoas comentaram. Algumas delas criticaram o posicionamento dele. Uma delas disse que "obrigar uma criança vítima de estupro a seguir com a gravidez era repugnante" e citou hipocrisia.
                                 Em resposta ao comentário, o padre disse que duvidava que uma criança tivesse sido abusada por vários anos e não comentado nada. "Aposto minha cara. Ela compactuou com tudo e agora é menina inocente. Gosta de dar então assuma as consequências", diz.
                                 Depois da polêmica, ele postou uma mensagem dizendo que iria sair do Facebook e que as pessoas defendessem a menina em outro lugar. "Você acredita que a menina é inocente? Acredita em Papai Noel também. Seis anos, por quatro anos, e não disse nada. Claro que estava gostando", afirma, no post antes de excluir a conta da rede social.
                                 Na nota divulgada nesta quinta-feira, ele disse que assume a responsabilidade pelas postagens e disse que não quer condenar e nem julgar.
                                 "Assumo a responsabilidade de ter proferido palavras desagradáveis, e justifico que compartilho da defesa da vida, nunca condenar e tirar julgamentos. Não foi minha intenção proferir palavras de baixo calão, as quais não comungam com minha fé e minha crença na pessoa humana. Àqueles que se sentiram ofendidos, só resta meu pedido de perdão", diz em trecho da carta.
                                 No trecho seguinte, ele afirma o motivo da exclusão da conta na rede social. "Excluí meu Facebook por não querer mais ofender e ser ofendido. Precisamos ser fraterno. Sempre preguei isso. As vezes que não fui, que Deus me perdoe. Lutemos pela vida, ela é dom de Deus".
Estupro e gravidez
                                 A gravidez foi revelada no dia 7 de agosto, quando a menina foi ao hospital, na cidade de São Mateus (ES), se queixando de dores abominais. A menina relatou que começou a ser estuprada pelo próprio tio desde que tinha 6 anos e que não o denunciou porque era ameaçada. Ele tem 33 anos e foi indiciado por estupro de vulnerável e ameaça, mas está foragido.
                                 A Promotoria da Infância e da Juventude de São Mateus decidiu investigar se grupos tentaram pressionar a avó da menina para que o aborto não fosse autorizado. O MP também vai analisar áudios de conversas de pessoas que estariam pressionando a família da criança a não interromper a gravidez.
                                 A ordem para interromper a gravidez é do juiz Antônio Moreira Fernandes, da Vara da Infância e da Juventude do Espírito Santo, atendendo a um pedido do Ministério Público daquele estado.
Um dos profissionais que atendeu a criança relata, na decisão judicial, que “ela apertava contra o peito um urso de pelúcia e só de tocar no assunto da gestação entrava em profundo sofrimento, gritava, chorava e negava a todo instante, apenas reafirmando não querer".
                                 Na decisão que autorizou a interrupção da gravidez, o juiz se baseia na Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento, editada em 2005 pelo Ministério da Saúde, para autorizar a interrupção da gestação.
                                 Segundo o magistrado, a norma “assegura que até mesmo gestações mais avançadas podem ser interrompidas, do ponto de vista jurídico, aduzindo o texto que é legítimo e legal o aborto acima de 20-22 semanas nos casos de gravidez decorrente de estupro, risco de vida à mulher e anencefalia fetal”. (Fonte: G1)