sábado, 16 de novembro de 2024
CRÔNICA

A Reforma

16/11/2019
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Pr. Pedro R. Artigas
Igreja Metodista

Hoje se perguntarmos a muitas pessoas que frequentam uma Igreja o que foi a Reforma, poucos saberão responder. Mas foi um dos maiores acontecimentos da Igreja Cristã. Para se ter uma ideia do fato, há um texto em latim que diz o seguinte: “Ecclesia reformata et semper reformanda secundum verbum Dei” que quer dizer: “igreja reformada e sempre reformando de acordo com a Palavra de Deus”.
A Igreja Cristã começou na verdade a Reforma quando o inglês John Wycliffe fez um desafio às crenças contemporâneas e foi morto em 1384. Depois dele diversos outros também se manifestaram contrários a diversos procedimentos da Igreja Católica em suas épocas, mas foi só em 31 de outubro de 1517 quanto o monge católico Martinho Lutero se opôs a venda de indulgências e afixou na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg as 95 teses em que defende o princípio do Solo Dei, ou Só Deus, que afirmava que Jesus é o supremo cabeça da Igreja, contra a autoridade papal, que a Bíblia é a Palavra de Deus e é autoridade sobre o cristão, e por fim que a salvação é pela fé, o que contradizia as indulgências.
Vamos explicar um pouco o que eram as indulgências. Elas surgiram numa época em que as Igrejas precisavam de dinheiro para suas campanhas de guerra e para a manutenção de seus exércitos. Era então oferecida em praça pública e nos púlpitos das igrejas, e quem a comprasse teria a salvação eterna. Tinham quatro versões, a ouro, que dava ao possuidor o direito de entrar no Céu e ficar bem perto do trono de Deus, o que correspondia aqui na terra em ser enterrado perto do altar central da Igreja. A prata, dava direito a que o seu possuidor fosse enterrado no espaço entre a mesa de comunhão e os primeiros bancos, e no Céu estaria na parte abaixo do trono. A branca que daria ao seu possuidor o direito de ser enterrado no corpo da igreja até o último banco, e no Céu dentro do lugar sagrado onde habita Deus. E a última de cor, segundo alguns escritores, vermelha e para outros azul, que daria ao possuidor o direito de ser enterrado atrás do último banco até a porta da Igreja, no Céu perto das paredes do Templo de Deus. Não esquecendo que todos os possuidores deveriam ser enterrados com as devidas indulgências para serem apresentadas quando chegassem ao Céu.
Como as pessoas não tinham a Bíblia em suas mãos e somente aos padres era permitido a leitura e explicação do texto bíblico, todos compravam, pois assim ficariam já salvos da ira de Deus e dos problemas com o diabo.
Lutero explica então em suas 95 teses a importância do conhecimento bíblico e da verdade da salvação, e em resumo dizia que Sola Fides, Sola Gratia em português só a fé, só a graça, em oposição a essa venda.
Mas Lutero, Calvino ou Zuinglio reformadores todos católicos, não tinham como objetivo sair da Igreja, mas que a Igreja mudasse suas maneiras de evangelizar, daí que a frase que cito no início era a máxima de todos, ou seja, que a Igreja se reformasse para continuar crescendo sob a autoridade de Cristo, segundo os ensinos apostólicos e evangélicos (dos Evangelhos). Mas Roma não aceitou e Lutero foi excluído da Igreja e continuou seus estudos e ensinamentos por toda Alemanha, dedicando-se a tradução do texto Sagrado para o alemão afim de que todos pudessem ler a Bíblia e tê-la em suas mãos.
Se olharmos para a atualidade vermos que o atual Papa Francisco é um reformador dos tempos modernos, vejamos e analisemos suas últimas alterações no contexto da Igreja. São mudanças sérias e que decerto modo atingem todo clero e a membresia. A orientação para que homens casados sejam ordenados padres para a Amazônia creio, ser a mais importante dos últimos séculos. E pode abrir caminho para que outras regiões possam ter também homens casados como sacerdotes, o que já acontece nas Igrejas Protestantes. Suas mudanças estão e serão ainda muito mais impactantes, no presente e no futuro. E ele como sacerdote não precisou como os antigos reformadores sair da Igreja. Então a frase latina que citei acima continua muito válida e verdadeira, “Ecclesia reformata et semper reformanda secundum verbum Dei” que quer dizer: “igreja reformada e sempre reformando de acordo com a Palavra de Deus”.
Os reformadores insistiram em oferecer uma tradução da Bíblia acessível a todos leitores em seus respectivos idiomas; e estabeleceram que não era a Igreja e sua tradição que interpretavam a Bíblia, mas a Bíblia que devia confrontar a tradição e sustentavam que a autoridade da Bíblia está acima das decisões dos concílios e, naturalmente da autoridade papal.
Foi então a partir desses movimentos que surgiram as Igrejas chamadas Evangélicas, que não estão sob a autoridade do Papa, mas que vivem dentro do pensamento primeiro dos reformadores, a Bíblia é a autoridade máxima sobre todos aqueles que confessam a Cristo como Senhor. Shalon.