sábado, 13 de dezembro de 2025
CRÔNICA

Graça e Paz às Sete Igrejas

12/12/2025
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Pr. Pedro R. Artigas

Igreja Metodista

 

Estamos no terceiro domingo do Advento e nossa palavra desta semana nos motiva a uma mudança de atitude. Ter a Paz envolve sermos gratos a Deus por todas as coisas que recebemos de suas mãos, ao mesmo tempo em que levamos essa Graça a outras pessoas. Pense nisso e tenha uma boa leitura.

Era fim de tarde, e a cidade parecia suspensa entre o ruído das buzinas e o silêncio das almas. No banco da praça, um homem lia em voz baixa um trecho antigo, quase esquecido pelos que correm sem tempo: “Graça e paz a vós, da parte daquele que é, que era e que há de vir.” O versículo soava como uma carta enviada não apenas às igrejas da Ásia, mas a cada coração que ainda se abre para ouvir.

João, o autor da mensagem, escrevia em tempos de perseguição. Não havia templos iluminados, nem liberdade para proclamar sua fé. Havia medo, havia prisões, havia o peso da dúvida. E, no entanto, a carta começava com duas palavras que parecem desafiar qualquer lógica: graça e paz. Como falar de paz quando o mundo se desmorona? Como falar de graça quando a injustiça parece triunfar? Talvez seja justamente aí que o texto se torna crônica viva: ele não descreve apenas o passado, mas atravessa os séculos e se instala em nossas esquinas modernas.

A praça onde o homem lia estava cheia de pressa. Pessoas passavam com celulares colados ao ouvido, preocupadas com prazos, boletos, compromissos. Ninguém parecia ouvir. Mas a carta de João não se destinava apenas aos que tinham tempo. Ela era dirigida às sete igrejas, número que simboliza plenitude, totalidade. Em outras palavras, era uma mensagem universal. E, se universal, também alcança a moça que corre para pegar o ônibus, o idoso que espera na fila do banco, o jovem que se perde em redes sociais. Graça e paz a todos eles.

O homem fechou o livro e olhou ao redor. Pensou em como a cidade se parecia com aquelas igrejas da Ásia: cada uma com suas virtudes e fraquezas, cada uma com seus desafios. Havia a igreja da pressa, onde ninguém tinha tempo para contemplar. Havia a igreja da indiferença, onde a fé se tornava apenas tradição. Havia a igreja da esperança, sustentada por alguns que ainda acreditavam que o amor pode transformar. E, assim como João escreveu, cada uma precisava ouvir que existe um Deus que é, que era e que há de vir.

A frase é um mergulho no tempo. “Aquele que é” lembra que Deus não está distante, mas presente no agora, no cotidiano banal. Ele está no trabalhador que volta cansado, na mãe que prepara o jantar, no estudante que enfrenta provas. “Aquele que era” recorda que há uma história, uma memória de fidelidade que sustenta. E “aquele que há de vir” abre a janela para o futuro, para a esperança que não se esgota. É como se o texto dissesse: não importa o caos, há uma linha contínua de presença divina que atravessa passado, presente e futuro.

Enquanto refletia, o homem percebeu que a paz não é ausência de problemas, mas presença de sentido. A graça não é recompensa por méritos, mas dom gratuito que se derrama sobre quem menos espera. Talvez fosse isso que João queria que as igrejas entendessem: que, mesmo em meio à perseguição, havia uma fonte inesgotável de esperança. E talvez seja isso que nós precisamos ouvir hoje, em meio às nossas próprias perseguições modernas — o desemprego, a ansiedade, a solidão, o medo do amanhã.

O sol se escondia atrás dos prédios, e a praça se enchia de sombras. O homem levantou-se, guardou o livro e caminhou devagar. Não pregava em voz alta, não fazia discursos. Apenas carregava dentro de si aquelas palavras como quem carrega uma carta pessoal. Graça e paz. Duas palavras simples, mas capazes de mudar o tom de um dia inteiro.

Na crônica da vida urbana, Apocalipse 1:4 se torna um bilhete inesperado. Ele nos lembra que não estamos sozinhos, que há um Deus que atravessa o tempo e nos alcança. E, talvez, se cada um de nós recebesse essa carta como se fosse escrita diretamente ao nosso nome, a cidade se tornaria menos apressada, menos indiferente. Seria uma cidade onde a graça e a paz não são apenas palavras antigas, mas experiências vivas.