PARANÁ
Pr. Pedro R. Artigas
Igreja Metodista
O vento da tarde soprava pelas colinas da Galileia, trazendo consigo o cheiro de terra e esperança. Os discípulos caminhavam ao lado de Jesus, ainda com o coração cheio da visão da transfiguração. Mas a pergunta pairava no ar: “Elias não deveria vir primeiro?”
Jesus, com olhar profundo, responde: “Elias já veio e restaurou todas as coisas. Mas o Filho do Homem será desprezado.”
Há algo de poético nesse contraste. Elias, o profeta esperado, passa como brisa leve, quase invisível. O povo não o reconhece, como quem deixa escapar o canto de um pássaro raro. E o Filho do Homem, que deveria ser exaltado, é destinado ao desprezo.
É como se a história fosse escrita com tintas paradoxais: o dourado da promessa misturado ao cinza da rejeição. O céu anuncia glória, mas a terra responde com silêncio e indiferença.
Pensemos em Elias como um jardineiro que chega antes da primavera. Ele arruma a terra, retira as pedras, prepara o solo. Mas poucos percebem o trabalho escondido. Quando as flores brotam, todos se encantam, esquecendo-se de quem lavrou o chão.
Assim também é a restauração: discreta, paciente, invisível. O Filho do Homem, por sua vez, é como a semente lançada ao solo. Para florescer, precisa morrer primeiro. O desprezo é o inverno que antecede a primavera.
O texto de Marcos 9.12 é uma pintura impressionista: não mostra linhas nítidas, mas cores que se misturam. O sofrimento e a restauração convivem na mesma tela. O desprezo não apaga a promessa, apenas a prepara.
É como o sol que se esconde atrás das nuvens: sua luz continua ali, mesmo que não seja vista. O Filho do Homem é essa luz velada, que brilha mais forte depois da noite escura.
Quantas vezes esperamos Elias em nossas vidas — sinais grandiosos, respostas imediatas, milagres espetaculares. Mas ele já veio, e talvez não o tenhamos reconhecido. Elias pode ser o gesto simples de alguém que nos estende a mão, o conselho discreto, o amor silencioso.
E o desprezo que o Filho do Homem sofreu continua a ecoar em nós: cada vez que a bondade é ignorada, cada vez que a justiça é ridicularizada, cada vez que a verdade é rejeitada. Ainda assim, a restauração segue seu curso, como rio que insiste em correr mesmo quando pedras tentam bloqueá-lo.
Marcos 9.12 nos convida a enxergar o invisível. Elias já passou por nossas ruas, talvez como um mendigo que sorria, talvez como uma criança que brincava sem ser notada. O Filho do Homem já foi desprezado, mas é justamente nesse desprezo que se revela a grandeza da cruz.
A poesia dessa passagem está no paradoxo: restauração e sofrimento, glória e desprezo, promessa e silêncio. É uma imagem que nos desafia a olhar além das aparências, a perceber que o divino se esconde nos gestos pequenos, e que a verdadeira vitória nasce do aparente fracasso.
No fim, o texto é como um quadro pintado com luz e sombra: Elias restaura, o Filho do Homem sofre, e nós aprendemos que a vida é feita de contrastes. E é nesse contraste que floresce a esperança. Shalom.
PARANÁ
FOI NA CHINELADA
NOTA DE FALECIMENTO
RECONHECIMENTO COOPERATIVO