ASSISTA - SERIA DA REGIÃO
Pr. Pedro R. Artigas
Igreja Metodista
Era uma tarde morna, dessas em que o tempo parece cochilar junto com os passarinhos. Dona Célia, sentada na varanda, folheava sua Bíblia com dedos lentos e olhos atentos. O versículo de Lucas 8:21 saltou da página como quem pede conversa: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam.”
Ela parou. Olhou para o céu, como quem espera que ele responda. E pensou: “Então família não é só quem divide o sobrenome?”
Na casa ao lado, o vizinho Seu Antônio, viúvo há anos, recebia a visita de um jovem que não era seu neto, nem sobrinho, nem nada. Era apenas o rapaz da padaria, que vinha toda semana ajudá-lo com as compras e ouvir suas histórias de juventude. Se isso não era família, o que seria?
Dona Célia lembrou de quando perdeu o marido. Os filhos, ocupados com suas vidas, ligavam de vez em quando. Mas foi a moça da farmácia, aquela que sempre perguntava se ela estava tomando os remédios direitinho, que apareceu com sopa quente e silêncio acolhedor. Não havia laço de sangue ali, mas havia cuidado. E cuidado, ela pensava, é uma forma de amor que não precisa de certidão.
Jesus, naquele versículo, não rejeita sua mãe nem seus irmãos. Ele amplia. Ele redesenha os limites do afeto. Diz que quem ouve e pratica a palavra de Deus — essa palavra que fala de compaixão, justiça, perdão e entrega — é família. É como se dissesse: “Família é quem caminha junto na fé, mesmo que venha de outra estrada.”
Na igreja, Dona Célia viu isso acontecer tantas vezes. Gente que chegava quebrada e era acolhida por abraços que não perguntavam de onde vinha, só diziam: “Você está aqui agora, e isso basta.” Crianças que encontravam em senhoras desconhecidas o colo que faltava em casa. Jovens que chamavam o pastor de pai, não por reverência, mas por afeto verdadeiro.
Ela pensava que talvez o mundo estivesse precisando ouvir mais esse versículo. Em tempos de muros altos e corações fechados, lembrar que os laços mais profundos não são os que o sangue impõe, mas os que a alma escolhe. Que ser irmão é mais do que nascer da mesma mãe — é nascer da mesma esperança.
Naquela tarde, Dona Célia fechou a Bíblia com delicadeza. Sentiu que o versículo não era só uma frase bonita. Era um convite. Um chamado para olhar ao redor e reconhecer irmãos e irmãs nos rostos que cruzam nosso caminho. Gente que nos escuta, nos ajuda, nos ensina. Gente que, sem saber, pratica a palavra de Deus com gestos simples: um prato de comida, uma oração silenciosa, um tempo oferecido.
Ela se levantou, pegou o telefone e ligou para a moça da farmácia. “Só queria agradecer pela sopa aquele dia. Foi mais que comida. Foi abraço.” Do outro lado, um sorriso se formou. E naquele instante, duas mulheres se tornaram irmãs — não pelo sangue, mas pela graça.
E você que dedicou seu tempo para ler esta pequena estória, tem sido família de alguém que necessita de seu calor humano, de sua prática de ser cristão? Ou têm pertencido a alguma família e recebido o calor que faltava e o afeto que Cristo nos dá. Shalom.
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