domingo, 14 de setembro de 2025
CRÔNICA

Quando Deus é Escudo e Voz

12/09/2025
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Pr. Pedro R. Artigas

Igreja Metodista

 

Era uma manhã como tantas outras. O despertador tocou, o café esfriava na xícara, e o mundo parecia girar mais rápido do que o coração podia acompanhar. Notícias ruins, contas acumuladas, mensagens não respondidas. Tudo pesava. E no meio desse turbilhão, um versículo antigo veio à mente, como quem bate à porta com delicadeza: “Mas tu, Senhor, és um escudo ao meu redor, és minha glória e o que exalta a minha cabeça.”

Salmo 3.3–4 não é apenas uma oração; é um grito de quem já esteve no fundo do poço e descobriu que o fundo não é o fim. Davi, o autor, estava fugindo do próprio filho, Absalão. Imagine o peso disso: o rei, o guerreiro, o homem segundo o coração de Deus, agora correndo, humilhado, desacreditado. E mesmo assim, ele escreve que Deus é escudo. Não apenas um escudo à frente, mas ao redor. Uma proteção que envolve, que abraça, que não deixa brechas.

Na crônica da vida, todos temos nossos “Absalões”. Podem ser medos, culpas, doenças, perdas. Podem ser vozes externas que dizem que não somos bons o suficiente, ou vozes internas que repetem que já falhamos demais. E é aí que o Salmo se torna mais do que poesia: ele vira resistência.

Davi não nega o caos. Ele não finge que está tudo bem. Ele reconhece os inimigos, os perigos, os insultos. Mas ele também reconhece algo maior: a glória de Deus. E não a glória como fama ou poder, mas como presença. Deus é a glória que levanta a cabeça de quem está prostrado. Não com força bruta, mas com ternura. Como quem diz: “Olha pra mim. Ainda estou aqui.”

E então vem o verso 4: “Com a minha voz clamo ao Senhor, e ele do seu santo monte me responde.” Há algo profundamente humano nesse clamor. Não é uma oração silenciosa, tímida. É um clamor. Um grito. Um desabafo. E Deus responde. Não com desprezo, não com demora. Ele responde do seu santo monte — do lugar onde habita, onde reina, onde vê tudo com clareza.

Essa resposta não é sempre o que esperamos. Às vezes, não é a cura imediata, nem o milagre espetacular. Mas é a paz que excede o entendimento. É a força para levantar da cama. É o consolo que chega sem explicação. É o escudo invisível que nos permite seguir.

Na correria dos dias, talvez a maior ousadia seja parar e clamar. Não com palavras bonitas, mas com a voz trêmula de quem precisa. E talvez a maior fé seja acreditar que, mesmo cercados por problemas, ainda somos cercados por Deus.

Davi termina o Salmo dormindo em paz. Isso, por si só, já é um milagre. Dormir quando tudo está desmoronando. Confiar quando nada parece certo. E acordar sabendo que Deus ainda é escudo, ainda é glória, ainda responde.

Hoje, talvez você esteja com a cabeça baixa, como Davi esteve. Mas há uma mão invisível que a levanta. Há uma voz que responde. E há um escudo ao seu redor, mesmo que você não o veja.

Porque, no fim das contas, o Salmo 3 não é sobre fugir. É sobre confiar. E isso muda tudo.

Esse é o nosso Deus, nosso escudo bem presente na tribulação. Pense nisso hoje e venha para a proteção divina. Shalom.