
Pr. Pedro R. Artigas
Igreja Metodista
Naquele fim de tarde, a cidade parecia desacelerar. As ruas menos cheias, o sol tingindo o céu de laranja e dourado. No banco da praça, um senhor de cabelos brancos observava as crianças brincando de pega-pega, rindo como se o mundo não tivesse pressa. Ao seu lado, eu estava lendo um livro, sem perceber que, ao virar cada página, também virava capítulos dentro de mim.
Ele quebrou o silêncio com voz serena: — Sabe qual é o maior mandamento? — perguntou, sem olhar diretamente para mim. — Amar a Deus? — respondi, hesitante. — Sim, e também amar uns aos outros… mas amar como Ele amou.
Eu fechei o livro e encarei aquele desconhecido. Não havia pregação rígida em sua fala, mas um convite. O senhor continuou: — A vida anda tão apressada que a gente se esquece de olhar para o outro. E às vezes, amar não é fazer algo grandioso. Amar pode ser ouvir sem interromper, dividir o pão, ceder o assento, oferecer o abraço antes que peçam.
Lembrei-me, ao ouvi-lo, das vezes em que o amor foi silencioso na minha vida. Como aquela vizinha que, ao ver minha mãe doente, nos deixou sopa na porta sem dizer palavra. Ou de um amigo que, no momento mais escuro, ficou ao meu lado sem tentar consertar nada — apenas ficando. Amor que não busca aplauso, mas se oferece inteiro.
O texto de João 15:12-13 não fala de amor como sentimento passageiro, mas como decisão que custa. “Dar a vida” pode até ser, literalmente, entregar o fôlego por alguém, mas também é abrir mão de um pedaço do próprio tempo, do próprio conforto. É colocar o outro antes — e isso, no dia a dia, é mais difícil do que parece.
O senhor na praça continuava: — Jesus não disse “amem quando der certo” ou “amem quando sentirem vontade”. Ele disse “amem como eu vos amei”. Isso é sem medida. E o amor d’Ele foi até a cruz.
Pensei em quantas vezes condicionamos o afeto: “ajudo se merecer”, “perdoo se pedir desculpas”, “dou atenção se me derem primeiro”. O mandamento de Cristo rompe essa lógica de troca. Ele nos chama a ser fonte, não espelho. É servir, mesmo quando o outro não retribui. É dar a mão, mesmo quando ela já foi empurrada para longe antes.
As crianças correram até um bebedouro próximo. Uma delas tropeçou e caiu. Antes que chorasse, um coleguinha a ajudou a levantar, limpando a poeira com a palma da mão. Simples, mas cheio de significado. O velho apontou a cena e disse: — Tá vendo? Isso é dar a vida. É estar presente no instante em que o outro precisa.
Voltei para casa com esse pensamento. Talvez amar como Cristo amou seja, no fundo, transformar pequenos gestos em atos sagrados. É trazer para o ordinário a dimensão do extraordinário. É não esperar que a vida nos dê ocasião heroica para salvar alguém, mas reconhecer que cada dia é feito de pequenas “doações” de vida: paciência, escuta, companhia, cuidado.
O mandamento de Jesus nos desafia porque ele não é poesia abstrata — é prática concreta. E, no entanto, é também poético, porque quando vivemos assim, transformamos a paisagem ao nosso redor. Onde há amor real, há luz que não se apaga.
Ao me lembrar daquele senhor, da praça, do entardecer, compreendo que João 15:12-13 não é apenas um verso bonito para se pregar num quadro. É roteiro de vida. É chave para um mundo menos frio, mais humano. Um mandamento que, se obedecido, não só nos aproxima de Deus, mas também uns dos outros. E talvez — só talvez — seja exatamente esse o milagre que ainda falta para o mundo.
Será que você ainda se lembra da palavra de Jesus em João 15.12-13? Por via das dúvidas vou deixá-lo para que você faça uma reflexão sincera do amor que vem dedicando aos outros: “O meu mandamento é este: que vocês amem uns aos outros, assim como eu os amei. Ninguém tem amor maior do que este de alguém dar a própria vida pelos seus amigos”. Shalom.