
Pr. Pedro R. Artigas
Igreja Metodista
Era fim de tarde quando Martha, deitada no sofá, ouviu a chuva tocar o telhado como dedos leves sobre um piano antigo. A casa inteira parecia suspensa num silêncio de espera. Do lado de fora, o céu estava carregado, mas havia uma claridade teimosa rompendo por entre as nuvens — como se fosse um sussurro de esperança no meio da tempestade.
Helena segurava na mão um caderno. Nas páginas, não havia listas de compras nem tarefas pendentes. Eram, na verdade, anotações de sonhos, pedidos e orações. Desde menina, ela tinha esse hábito: escrever o que o coração desejava, mas não como quem escreve uma carta para Papai Noel — e sim como quem deposita sementes na terra, confiando que, mesmo invisíveis, algo está acontecendo debaixo do solo.
Naquele dia específico, no entanto, algo a incomodava. Havia um pedido que ela vinha repetindo há meses. Orava, escrevia, repetia — mas nada mudava. A sensação era como falar para uma porta fechada.
Foi então que, mexendo no caderno, encontrou um versículo que havia anotado semanas antes, pois a palavra do texto havia combinado com seu coração no dia que o escreveu, estava no evangelho de Marcos capítulo 11, versículo 24: "Tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis, e tê-lo-eis." Leu devagar, saboreando cada sílaba, como quem deixa o café esfriar um pouco antes do primeiro gole. E de repente entendeu algo que não tinha percebido antes: ela vinha orando, sim. Mas vinha esperando ver para depois crer — e não o contrário.
Fechou o caderno, levantou-se e foi até a janela. Lá fora, o jardim estava encharcado, mas as plantas, vivas. Pensou nas raízes, que não reclamam do escuro da terra, porque sabem que ali está o alimento. Talvez a fé fosse assim — confiar no invisível, regar sem pressa, crer antes de tocar com as mãos.
Lembrou-se de quando plantou, pela primeira vez, uma muda de manjericão. Era pequena, frágil, e por semanas não parecia crescer. Mas um dia, sem aviso, começou a se espalhar verde e perfumada. "Foi sempre assim", ela pensou. "O que eu não via estava acontecendo."
Helena percebeu que sua oração não era uma fórmula mágica, mas uma conversa íntima com Aquele que vê o que ela não vê. E que, mais do que pedir, ela precisava alinhar seu coração à confiança de que já havia sido ouvida. De repente, a espera deixou de ser um peso e passou a ser um campo fértil.
A chuva diminuiu, e um raio de sol entrou pela janela, riscando de dourado a parede da sala. Helena sorriu. Não era o cumprimento visível do que ela pedia — ainda não. Mas era como um recado suave: "Eu estou aqui. Confia."
Sentou-se novamente, pegou o caderno e escreveu: "Hoje decidi crer antes de ver." E, pela primeira vez em muito tempo, fechou os olhos para orar sem pedir nada. Apenas agradeceu — não pelo que ainda viria, mas pelo que já estava certo no coração de Deus.
Naquela noite, dormiu com a sensação de que, de algum modo, a janela não dava mais apenas para o quintal. Dava para um horizonte sem muros. E, mesmo que a paisagem não tivesse mudado, algo nela havia se transformado: agora, o futuro já era um presente.
E você amado leitor o que tem pedido aos Senhor e está achando que seu pedido não será atendido. Provavelmente você esteja como Martha, que irá acreditar quando receber o pedido, mas quero deixar um lembrete que está na Carta aos Hebreus no capitulo 11, versículo 1: “ ora, a fé é a certeza de coisas que esperam, a convicção de fatos que não se veem”. Shalom.