sábado, 5 de julho de 2025
BRASIL – VEJA DETALHES

Ex-diretora de presídio tinha relação amorosa com líder de facção e ajudou presos a fugirem 

04/07/2025
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Uma investigação sobre a fuga de 16 detentos do Conjunto Penal de Eunápolis, no sul da Bahia, em 12 de dezembro de 2024, revelou um escândalo envolvendo a ex-diretora da unidade. Segundo depoimentos de presos e funcionários, ela mantinha uma relação amorosa com o líder da facção Primeiro Comando de Eunápolis (PCE), e concedia regalias a membros do grupo, incluindo a entrada irregular de itens e a liberação de acesso sem revista a pessoas próximas aos detentos. As acusações, que culminaram na prisão em janeiro deste ano, levantam sérias questões sobre a gestão do sistema prisional e a influência de facções criminosas.

As investigações, conduzidas após a fuga de 16 presos, apontam, primeira mulher a comandar um presídio masculino na Bahia, facilitou a ação que libertou Dadá e outros detentos. De acordo com o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), a ex-diretora mantinha “contato direto e reuniões particulares” com líderes de facções, especialmente Dadá, e autorizava benefícios como a entrada de freezers, roupas, sanduicheiras e refrigeradores para uso exclusivo dos membros do PCE. Um depoimento do ex-coordenador de segurança do presídio, Wellington Oliveira, preso por suspeita de cumplicidade, revelou que ela permitia a entrada da esposa de Dadá sem revista ou inspeção, uma prática que desrespeitava os protocolos de segurança.

Relatos de funcionários e presos indicam que os presos frequentemente se reuniam a sós, com o visor da porta coberto por uma folha de papel, o que gerava desconfiança entre a equipe. A investigação também sugere que a ex-diretora teria recebido R$ 1,5 milhão da facção PCE, com planos de fugir para o Rio de Janeiro, onde o grupo mantém alianças com o Comando Vermelho (CV). A defesa, representada pelo advogado Artur Nunes, nega veementemente essas acusações, afirmando que não há provas de qualquer pagamento e que a quebra de sigilo bancário da ex-diretora está à disposição para comprovar sua inocência. 


Um elemento adicional complicou o caso: que estava grávida no momento de sua prisão, ingressou com um pedido judicial de auxílio financeiro contra o ex-deputado federal Uldurico Junior, alegando que ele seria o pai de seu filho, nascido prematuramente e atualmente sob sua guarda no Conjunto Penal de Itabuna. As investigações apontam que Uldurico tinha acesso privilegiado ao presídio, sem passar por revistas, e mantinha contato frequente com Dadá e outros líderes de facções. 

O advogado do ex-parlamentar negou as acusações e afirmou que Uldurico aguarda um teste de DNA para esclarecer a paternidade. A fuga dos 16 detentos, registrada em vídeo como uma “ação planejada”, foi orquestrada, segundo a polícia, com o objetivo principal de libertar Dadá, líder do PCE. Até o momento, 15 dos fugitivos permanecem foragidos, enquanto um deles foi localizado em uma casa em Eunápolis e morreu durante uma operação policial. 

A investigação também levou à prisão de Wellington Oliveira, ex-coordenador de segurança do presídio, acusado de ser cúmplice dela. A sentença do TJ-BA que manteve a prisão da ex-diretora destacou as “diversas irregularidades” sob sua gestão, incluindo a falta de rigor na segurança e a proximidade com líderes criminosos.