quarta-feira, 9 de abril de 2025
CRÔNICA

Fome e Sede que transcendem o Corpo

06/04/2025
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Pr. Pedro R. Artigas
Igreja Metodista


Estamos no último final de semana do período chamado Quaresma, no próximo entraremos na Semana Santa, com o domingo de Ramos. Este ano pudemos refletir sobre diversos aspectos da fé, e como podemos nos tornar melhores cristãos em um mundo tão desigual e desumano. Nossa estória de hoje nos reflete essa trajetória, de como podemos mudar nossa vida e também a vida de nossa comunidade. Foi esse o ensinamento que Jesus nos deixou, e essa é a marca do cristão verdadeiro. Vamos contar uma estória baseada nas Bem-aventuranças. 
O pequeno vilarejo de Santa Esperança sempre foi um lugar pacato, onde os dias corriam como um riacho tranquilo. Mas, entre suas casas simples e ruas de terra batida, havia um menino que carregava no olhar um desejo que ia além do pão e da água. Miguel não queria apenas saciar o estômago ou matar a sede nas fontes cristalinas da praça central. Não. Sua fome era outra. Sua sede, mais profunda.
Desde criança, Miguel sentia inquietação ao ver a injustiça rondando sua comunidade. Eram vizinhos explorados, trabalhadores mal remunerados, crianças sem oportunidades. Ele ouvia as histórias dos mais velhos e se perguntava por que algumas pessoas tinham tanto e outras quase nada. Quando lia Mateus capítulo 5, versículo 6, sentia que essas palavras pulsavam dentro dele como um chamado. "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos." Mas onde estava essa justiça? Quando seria saciada?
Os anos passaram, e Miguel cresceu, mas a inquietação nunca o abandonou. Na escola, organizou campanhas para ajudar os mais necessitados. Nas conversas de rua, defendia os idosos que eram esquecidos. E, quando teve idade suficiente, começou a lutar por mudanças, acreditando que um dia veria aquela justiça que tanto almejava.
Nem todos compreendiam sua missão. Alguns riam, outros o chamavam de sonhador. Mas Miguel sabia que a fome de justiça não era passageira, como a que se sacia com um pedaço de pão. Era algo que queimava, movia, empurrava para frente.
Foi numa tarde fria que Miguel viu o primeiro fruto daquilo que sempre acreditou. Um grupo de moradores se reuniu, inspirado por suas palavras, para exigir melhorias na escola do vilarejo. Pouco tempo depois, um projeto foi aprovado, trazendo mais oportunidades para as crianças do lugar. Miguel percebeu, então, que a sede de justiça realmente poderia ser saciada—não por um único ato, mas por pequenas conquistas, por gestos que se somam até transformar o mundo.
O versículo de Mateus 5:6 nunca saiu de sua mente. Ele entendeu que a justiça é como um pão repartido: cada pequeno pedaço compartilhado alimenta alguém e, juntos, constroem um banquete que pode mudar histórias.
E assim, naquele vilarejo simples, onde o tempo parecia correr devagar, Miguel seguiu firme, lembrando-se sempre das palavras de Jesus. Porque aqueles que têm fome e sede de justiça, cedo ou tarde, descobrem que o alimento da alma está em nunca desistir de lutar por um mundo melhor. Lembremo-nos sempre que ser cristão não é ser somente frequentador de Igreja aos domingos, mas é ser participante da vida comunitária, e ser um agente da transformação aonde estamos. Pense nisso nesse último final de semana antes da Semana Maior. Shalom.